Hoje de manhã saímos muito tarde de casa, atrasadíssimos para o emprego e ainda ter de fazer uma paragem na escola da mais nova para a deixar. Parei o carro, deixando-o a trabalhar, fui á mala tirar a mochila da pequena. Entretanto a A. ajuda-a a sair do carro ainda ensonada, entrego-lhe a mochila e damos-lhe um beijo e um até logo, tudo em menos de um minuto. Parecia um "pit stop" de Fórmula 1, e foi perfeito!

    Na minha rua muita gente vai passear os cães e vejo-os sempre com os saquinhos para apanharem o cocó. Isto, para mim, é a coisa mais baixa que existe na vida do ser humano. Andar atrás dum cão com uma pázinha. À espera que ele faça para poder ir meter o cocó no saquinho.

    Se os extraterrestres estiverem a ver isto por um telescópio, vão pensar que os cães são os líderes do planeta. Se vissem dois seres com vida, um a fazer cocó e o outro a apanhar o cocó com um saquinho, quem é que iriam pensar que mandava em quem?

    Se foi a isto que chegámos ao fim de cinquenta mil anos de civilização, mais vale desistirmos. Estou a falar a sério. Vamos acabar com isto. Não vale a pena. Vamos assumir que a raça humana foi uma ideia que não resultou. A principio parecia boa e continuou a funcionar durante muito tempo, mas depois foi por água abaixo. Fomos à lua mas, não sei explicar porquê, continuamos a acartar saquinhos com caca de cão. A certa altura, passámo-nos. Vamos dar isto aos insetos ou a quem estiver a seguir a nós na linha de sucessão.

Nunca hei-de perceber por que é que cozinham na televisão.

Não se sente o cheiro.

Não se pode comer.

Não se pode provar.

No fim do programa põem o prato à frente da câmara. «Pronto, aqui está. Não podem comer. Obrigado pela vossa companhia. Adeus.»

 Não sou grande investidor.

    Aliás, perdi dinheiro em quase todos os investimentos que fiz. Houve vezes em que perdi tudo o que investi.

    As pessoas estão sempre a dizer-me que devia pôr o meu dinheiro a trabalhar para mim. Bem, mas a partir de agora, decidi que vou ser eu a trabalhar e vou deixar o meu dinheiro em repouso. Sabe-se lá o que o nosso dinheiro já passou antes de chegar à nossa mão? Talvez tenha estado a trabalhar. Talvez esteja cansado. Talvez tenha sido por isso que saiu de onde estava. Se eu for bonzinho para ele, talvez ele fique comigo.

 É difícil fazer uma boa ação. Vamos considerar alguns profissionais dos gestos bonitos: os Homens Morcego, os Super-Homens, as Mulheres Maravilha, os Homens Aranha. Usam todos disfarces, máscaras a tapar a cara e identidades secretas. Não querem que as pessoas saibam quem eles são. É que fazem coisas muito graves. «Super-Homem, obrigado por me teres salvo a vida, mas era preciso entrares pela parede? A casa é alugada e tive de pagar uma caução do caraças... E agora o que é que faço?»

 É assim que gosto da minha casa. Mas não gosto de limpar. Limpo, bom. Limpar, mau. O verbo torna tudo diferente. Por isso, tive de arranjar uma empregada. 

A Svetlana a mandriar

 Já vivo nesta casa há muitos anos e, sempre que a pinto, fico desanimado. Olho em volta e penso: «Bom, agora ficou mais pequena.» Bem sei que é só a espessura da tinta, mas de qualquer forma reparo nisso. De cada vez que a pinto, ela encolhe, encolhe e encolhe. Até deixo de saber onde estão as tomadas nas paredes.